"Eu sou uma pedra", ela disse com os olhos. Os meus olhos que ela havia perdido. Eu também não reclamei por ela tê-los encontrado, todos eles inteiros. E agora usá-los como cartaz. Cartaz que diz, que insiste, que grita: "eu sou uma pedra". Ela parecia mesmo uma pedra. Durante todo aquele tempo. Todo aquele tempo impossível de se medir. Poderia ter sido apenas uma tarde chuvosa ou todo o verão. Eu permaneci escalando a vidraça que continuou me encarando.
Tirei fotos pra manter na memória. Memória é uma coisa falha. Cada novo pensamento é uma queda de braço. Uma queda de braço com um antigo pensamento. Para ver quem permanece.
As luzes piscam e a música continua.
Cada novo pensamento expulsa um antigo. Ou não consegue se fixar. A teia fica em cima. Pra cima. O teto é o chão. Cada hora um novo pensamento me acomete. Sem espaço na memória RAM.
Alô! O celular tocou e o pensamento último escapou. Não conseguiu nem jogar uma queda de braço. Não pôde brigar por espaço. Espaço na minha cabeça que dói.
As bases foram alteradas. Eu só queria pisar o teto. Encarar o chão. E desconsiderar as paredes todas. Como se o teto se sustentasse sozinho. E. E eu pudesse ser chão.
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
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