domingo, 28 de setembro de 2008

enquanto você dormia













- Passei suas roupas todas antes de você acordar.
- (não responde)
- Todo dia eu passo minha vida a limpo, no ferro de passar.
- (não responde)
- Eu sei. A maior parte da vida nem está amassada.

Corte cinematográfico.
Tudo girando, como num parque de diversões, acelerando, acelerando, mais rápido, vocês no parque de diversão, barulho ao longe, talvez de crianças num chapéu mexicano ou montanha russa. Cartão postal, férias com a família, cachorro-quente e pipoca, cheiros e cores, tudo meio confuso como num flash – um flash é uma boa imagem – é isto – um flash – disso tudo – bem rápido acelerando e então suspende – Brusco.

Uma Pausa.
Longa.

Detalhe da mão segurando o bastão de algodão doce. Silêncio como num filme antigo. Eisenstein. Detalhe da outra mão segurando o balão de gás – não, não o balão – a cordinha do balão – a cordinha na mão, esticada pra cima, dando a entender que sustenta um balão de gás. Silêncio.

Corte.
Corte cinematográfico e uma mão alisa o seu cabelo. Uma mão macia. Música. Um cafuné com trilha sonora, um cafuné – uma seqüência inteira de cafuné, meio em câmera lenta, quase uma coreografia – sim, na verdade quase um balé-cafuné, e a trilha sonora vai crescendo, mãos e cabelos.

Corte.
De novo o detalhe do algodão doce, outra vez a cordinha do balão de gás. Nenhuma música aqui. Ruídos do ambiente, mas bem fraquinhos. Olhar pra dentro. Sangue correndo nas veias, alimentando e irrigando órgãos internos e o som ambiente baixinho. Um pulmão em plena atividade e ao longe a voz da tia do cachorro quente e os gritinhos vindos do chapéu mexicano.

Ou montanha russa.

Ou não.
Nenhuma imagem interna, apenas o blecaute e os sons.

Corte.
Agora parece uma cena de diálogo da qual foi tirado o áudio. Não se ouve o que uma diz. A outra fica calada e parece entender. Nesta seqüência não há música, nem balão de gás, nem chapéu mexicano, nem cachorro quente.


Nota para a iluminação: todas as cenas externas são claras. As internas são escuras.

sábado, 27 de setembro de 2008

não, não são as mesmas...

As ruas de Bagdá não são as mesmas, hoje enquanto dormia coloquei aquele velho tênis azul de corrida e corri muito por todas as ruas próximas, corri por outras distantes também. E volto a falar, a ruas de Bagdá não são as mesmas, hoje enquanto dormia corri na padaria para te trazer pão quente, corri porque o pão não podia chegar frio em casa, senão melhor não trazê-lo.
Corri enquanto dormia porque pensei em tudo o que deveria dizer, mas tudo passava tão rápido por mim que cheguei em casa e não lembrava de uma palavra sequer.
Dormia enquanto corri sem rumo. As ruas de Bagdá não são as mesmas, tudo parece que está prestes a explodir, e não se preocupe, saio correndo antes para ver se há perigo. Do meu lado explodiu uma criança hoje, podia ter sido você, mas você ainda esta em casa esperando que eu chegue com a vela, já disse que o pavio queimou, essa brasa não será o suficiente pra enxergar tudo o que eu quero ver.
Hoje explodiu o portão da nossa casa, ainda quer ficar, ainda vai fingir que nada acontece?
Você diz que olha por onde anda... mas já viu o portão da nossa casa? Não me venha com a desculpa da luz novamente, eu consigo ver.. você vai querer olhar?
Você já sabe o que fazer, passou todas as minhas roupas enquanto eu dormia.

mãos cegas

A falta de luz me faz mapear seu corpo com as mãos, essas mãos que olham mais do que seus olhos grandes em cima de mim. Busquei te tocar cada vez mais e... e como plugamos os fios nos lugares certos... Agora não há lugar para mais fios, mais tomadas, mais resoluções. Tudo virou uma cama de gato. Minhas mãos calejaram, sinto dor de te tocar, não te vejo mais. Corro então...não era aqui que deveríamos estar. Você pra cá e eu pra lá de Bagdá, sabendo que o tempo escasso que temos é contado por uma máquina, não é para sentirmos nada, você com tantos olhos e eu cega... fique com meus olhos, se quiser fique com minhas mãos também, assim que terminarmos farei um transplante de córneas.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

a arte subverte a linguagem porque antecipa o próximo sistema de linguagem

Nós vivemos em um mundo em que tudo é puro discurso. A realidade não é objeto, e sim o objeto representado. Eu represento qualquer coisa através do discurso bem elaborado. E isso implica na fragilidade da verdade. Porque as coisas são voláteis, são instáveis.

O real é aquilo que escapa à linguagem.

A imagem que nós temos de nós mesmos é algo construído. Não nos enxergamos. Só podemos ver o outro. A nossa auto-imagem é mediada pelo espelho.

Só é possível haver comunicação quando emissor e receptor interpretam signos dentro de um mesmo código. A língua, por exemplo, é um código. Pois código é um conjunto organizado - sistema - de sons, imagens, signos. Mas se o código é social e histórico raramente partilhamos do mesmo. Isso gera o ruído.


"A palavra é a morte da coisa", Foucault

"A linguagem é fonte de mal-entendidos." Pequeno Príncipe

"Todo texto carrega uma contradição", Bahktin

"O herói virou um homem fragmentado", McLuhan

"O HERÓI VIROU UM HOMEM FRAGMENTADO"

Eu sei que tudo isso começou assim porque eu te causei uma espécie de fascínio imagético. Porque eu te hipnotizei, como se hipnotiza uma serpente com o som da flauta. Eu te fascinei com a imagem que eu projetei pra você a partir do que eu sou, do que eu era. E você ficou paralisada. Presa. Mas esse tipo de fascínio passa. Você se libertou de mim. Você se libertou quando percebeu que a imagem não era a essência. E eu sei que essa mala embaixo da cama está aí há muito mais tempo de forma não-concreta. A idéia da mala está aí desde que a imagem se dissolveu. E isso já faz muito tempo. Muito mais tempo do que o dia em que você tirou todas as roupas do armário, colocou-as na mala e escondeu tudo debaixo da cama. Concretamente isso aconteceu apenas na semana passada. Mas nós sabemos que essa mala está aí há vários meses.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Cai a luz

- Minhas mãos estão ardendo.
- Venha deitar. Você teceu demais ontem.
- Não posso. É hora de começar. E agora que sei... simplesmente não posso.
- Eu me preocupo.
- É meu dever. Não posso deixar que você me impeça.
- Claro... (pausa) Você deve compreender meu amor. É um caso de sobrevivência.
- Se você construisse sua própria teia...
- Você sabe meu amor. Não é da minha natureza. Além do que mais, eu não quero trocar minha vida pela sua.
- Desculpe. Apenas não é uma questão de escolha. Eu preciso fazê-lo.
- Bom, eu ainda posso tentar... nos salvar na luz.
- Por que você está fazendo isso? Você sabe. Eu trabalho o dia todo. Você tem apenas duas horas. Pra que adiar?
- Eu não sei exatamente. (pausa) Talvez seja por quantas mais 22 horas eu estiver com você. Talvez eu seja um mártir. Talvez goste de desafios. Ou tenha orgulho de ser uma presa grande; frutífera e protéica. Talvez tenha nojo de tudo isso e seja doente. Eu não sei. Apenas preciso fazê-lo. (pausa). Venha, me abrace. Ah, não chore, meu amor. Shiii... Eu ainda estou aqui. Temos 22 horas agora.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Ver

Ver.
Hoje não vejo nada e acho que isso é visível.
Algo me tapa a visão.
Não, não é um tapa olho.
Meus sentidos estão comprometidos.
Já não ouço direito, o paladar não é um espetáculo, os outros eu não lembro. Só que são 5 .
Não, eu não sou o menininho do filme. Porque todo mundo morre e pronto.
As lacunas existem. Depois é só organizar tudo isso como quiser.
Eu te vi Dona aranha e vc tinha as 8 patas.
Distúrbios: Psicológicos, Digestivos, Visionários: Não vejo o que vem pela frente.
Eu odeio quando a luz pisca. Mas é preciso preencher as lacunas.
Monto a minha própria TV. Ela não é automática, nem digital. É visual. É preciso muita força pra ela continuar existindo. Vc fez um programa. Vc não era a baba do Caco. Mas só tinha pernas. E isso bastava.
Cada vez menor, e menor, e menor.

- Eu tô virando criança.

- Não, é só o filme acabando.

- Mas ainda quero dançar.

- Então eu filmarei. Pra ficar pra posteridade. Porque depois tudo acaba e pronto.

Não isso não terá um final feliz

Não isso não terá um final feliz.
Eu e vc sabemos disso.
É isso é o fim.
E a narrativa começa aqui.
Agora só falta o adeus, que terá que esperar até amanhã.
Agora é tarde.
Anoiteceu.
Não há mais tempo.
Não se vê muito além.
Eu e vc sabemos o que vai acontecer.
Não estamos envolvidas.
Assim é mais fácil.
Ver de outro ponto é sempre assim.
O referencial não é o mesmo.
É isso muda tudo.
Não sei mais o que é esquerda ou direita.
Só o que é certo.
Sim, torcemos por uma reviravolta.
Porque de longe tudo é lindo.
Depois de uma longa discussão a porta vai abrindo pra alguém sair, então se fecha abruptamente. E vem um beijo. Ele não é comum, parece em câmera lenta, um pouco mais próximo que o normal. Nas janelas se vêem gotas de chuva escorrendo. A trilha sonora cada um escolhe a sua.
Mas nada disso acontece, a porta bate, cada um vai pro seu lado.
E, olhando de dentro, talvez esse seja o final feliz.

Há coisas que não precisam ser ditas

Há coisas que não precisam ser ditas. Estão todas ali. Vc tem todo o material de que precisa. E como num quebra-cabeça vai montando peça por peça. Mas aqui não há regras, vc organiza como quiser. As escolhas são suas.

Por favor, não me diga com palavras. Não com as óbvias. Eu quero o inesperado. Eu não preciso ver sangue pra ver que acabou, balas já me dizem isso.

No fundo eu não quero que vc me diga nada. Quero que vc se vá. Simplesmente desapareça. Pronto. Acabou. E só assim poderei sonhar. Pensando que na verdade vc não me deixou. Não. Na verdade você foi atingida após uma batida violenta entre dois carros em que um deles perdeu o controle enquanto atendia a uma ligação boba, nada importante demais. E que enquanto os carros viravam na da pista, tudo que vc tentava era se proteger. Mas o um dos pára-choques, que agora não vem ao caso qual, atingiu suas pernas. E seu corpo foi projetado pra cima. Vc voou por alguns segundos. Na queda, seu crânio não foi forte o suficiente pra suportar o choque. Provocando uma rachadura que fez seu cérebro desmanchar na pista em meio a vidros quebrados e sangue. Uma morte instantânea e sem despedidas. Essa é uma possibilidade que não descarta a em que você pode ter tomado um copo de veneno que não era pra vc. Simples e letal. Sim, eu poderia facilmente pensar assim. Mesmo com os armários limpos.

A minha imaginação preencheria as lacunas como eu quisesse. No fundo eu espero que vc não diga. A coisas já são óbvias demais.

É. Isso é multiolhar.

Sim, porque alguns vêm a Juliana Paes, outros um chinelo ou só a infância. E isso tudo é multiolhar.

Xuxa

E se a Xuxa casasse com o Pelé. Quem seria o rei dos baixinhos?

- O Maradona

um certo homem maquina

Tudo começa como começa qualquer historia. Do nada pessoas se reúnem em busca de uma aventura. Elas terão altos e baixos. E haverá momentos em que se suporá que não chegaram ao fim. Mas no fim farão algo fantástico. Elas não sabem e por isso sofrerão. Mas já está tudo escrito. E dentro de 6 meses tudo em suas vidas irá mudar. Mas antes de começarmos a aventura férias porque ninguém é maquina. A não ser um futuro conhecido.

Tic-tac. Tic-tac. Tic-tac. Prontas pra começar?

- ainda não.

-por que?

- peguei varicela.

Quando voltei tudo tinha mudado. Alguém fazendo campanha política, outras atrás das mulheres de Picasso ou Vincius.

Es então que surge nosso Deus tocando ao fundo Enia e tudo o que tiver direito – Nina Rosa Sá. Com nosso ex-futuro conhecido agora atual senhor maquina. E ela não tinha se afogado. E o seu coração era um relógio. Naquele instante meu coração bateu mais forte, ou foi o cérebro? As vezes a coisas que vc não entende mas mesmo assim te pegam.

Lembro de cada carinha. E se fossemos desenhos animados a Thaisa teria concerteza no lugar da cabeça um ponto de interrogação.

Apresentados os personagens passaremos ao próximo capitulo. AS RAIAS.

Sim nos fazíamos montinhos e adorávamos os abraços não eram nada mal. E as imagens – corre, anda, deita, pula, pula, pula, pula, não isso é outra peça. Mas o que é mesmo que heiner muller queria dizer? Cri. Cri. Cri. Mas o que é mesmo que nos queríamos dizer? As paredes se destroem entre nos. E no meio de tudo isso SP. 1 vez por mês lá e outra cá. Não, não era o masp é só uma torre vermelha. E andar das clinicas ao trianon foi moleza. Queria ter ido ate o fim- da paulista.É já faz 2 anos. O mais surpreendente de tudo foi que na Sé encontrei o Suplicy. As lembranças ficaram meio escuras, mas ainda estão aqui. É só puxar uma que elas voltam.

Capitulo 3: Não vai dar certo.

Ensaios cancelados, atrasos e paciência, muita, muita, muita paciência. Mas vc lembra das imagens?

Catchup/ livros/ peixes/ melancia/ cruz. Ah tinha também o frango assado, farofa só lá no final. Sapatos/carne/ tic-tac/ki-suco. Ingerimos tudo erguemos as mãos pro céu e demos gloria a Deus. Afinal estávamos fudidas e mal pagas, ou melhor, estávamos pagando pra fazer tudo isso. Enquanto uns tem demais outros.... e por isso vieram os tombos. Como o da Ligia no corredor. Não menina ai não é lugar de ensaiar.

Chega o momento de nossa pausa Dramática . Ele geralmente vem antes de um momento importante, um momento que se deseja que todos prestem atenção. O momento de um silêncio ensurdecedor. Não nessa pausa não há silencio.

- Vamos é preciso encher os pulmões. 1 , 2, 3. Eles já não tem força e cada enchida é mais espaçada. E não é o silencio que ensurdece. É o barulho. Tudo que eu queria era gritar bem alto PARA.Acabou não há mais nada a fazer. Agora só me resta fugir para não ver o que vem a seguir. A dor vai junto. 1/2/3 piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

E tudo que eu não queria era cantar: _ Dorme minha pequena...

Eu sai por ai e quando voltei havia um abraço. Que não esperava precisar. E é com esse abraço que termino essa pausa porque depois disso nada é igual.

A peça já tinha estrutura. O balé precisava de ensaio, mas pra uma punk nada é impossível. Sim, vc vai ser uma emo Ligia. Peruca rosa e cabelão. Em duas semanas de ensaios em um certo teatro de manha. Muitas risadas. E dor. Mas conseguimos manter a pose. por varias musicas. Eu falei que a gente teria muitas quedas.( não os pequenos cisnes não cairão . quase mas só depois do catchup).

Vocês sabem que precisam de direitos.

-não recuso os meus. Brigada.

Não deu. E mister sorrisinho no fundo teve uma pontinha de culpa. Mas so la no fundinho. Embroilios , mas tudo resolvido se não fosse uma espécie a qual não lhe agrada Roberto Carlos. Calma nada vai se putrefazer.

- você me deixou aqui pra morrer

-ah?

- você me deixou aqui pra morrer?

-Eu te deixei e fui correr?

- vocês me entendem ne?

- não, não entendo. Acho que vc tomou morfina demais..

- eu so quero chorar.

- não tem que fazer a farofa

no final viramos um grupo musical. Capa do disco ficou ótima.

E essa peça na verdade era um roteiro gastronômico e tudo sempre terminava com café.

em qual parte do pé eu encontro o ponto remedial dos olhos?


por favor, alguém acende a luz?

eu tenho apenas 15 minutos e por isso eu corro, eu corro muito pra chegar a tempo... os pés são olhos e o pensamento os pés... eu corro muito. tem que dar tempo!!!ela tem preceitos: somente olhos nos olhos! e por isso eu twnho pouco tempo, apesar de saber que o que olhos não vêem o coração não sente!!! por isso eu prefiro o escuro. eu tenho certeza que a dor vai ser menor! você sabe quais as palavras! você sabe da mala pronta embaixo da cama. e o tempo é muito curto. porque^porque eu tentei arrumar os fios e fazer as coisas se acertarem, mas não, eu levaria décadas... e você não possui mãos habilidosas nem pra acertar os ponteiros do relógio! eu corro, eu corro muto... eu fecho so olhos pra esquecer a dor! tem que ser hoje, e o dia ta acabando...
penso na lâmpada pra trocar, no interruptor pra consertar, na vela sem pavio e então o teu olhar na penumbra da casa me barra: hojee é tarde demais... dois minutos e a luz se foi. a mala continua embaixo da cama, e você sabe: só olhos nos olhos.
- venha dormir, já está tarde... você me parece cansada, o dia foi cansativo?

uma lágrima no olho esquerdo responde tudo.
- não foi nada! só o relógio que insiste em mudar os ponteiros de lugar.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

TODOS OS OLHOS



Olhei seu sorriso e achei que vi um sorriso. Olhei seus olhos e achei que era pra mim. Não vi mais ninguém, perdi o foco – eu sou assim, num piscar de olhos me deixo pegar. Não me olhe desse jeito, não veja isso como um problema – não se sinta responsável – não sou raposa, nem você é príncipe, nem ninguém é responsável por aquilo que cativa. Não olhe pra trás, o que foi já foi, eu estou aqui parada, mas, se fechar os olhos, estarei em muitos lugares, assim mesmo, num piscar de olhos. As coisas não são o que parecem, tudo é o que se quer ver, pra ver outra coisa basta dar a volta, atrás da escola está o traficante, acima do cenário está o urdimento, debaixo do tapete está a sujeira, os lactobacilos são bactérias ou são yakult?, tudo depende de o que se vê, de pra onde se olha, de como se quer ver as coisas, eu tenho muitos olhos, eu não tenho olhos só pra você – eu sei, eu pareço volúvel – com um olho eu choro, os outros eu pinto pro baile. Atrás do baile tem a cozinha do baile, se você visse a cozinha não comeria esta esfiha, o que é diversão pra uns é trabalho pros outros, quem trabalha no que gosta economiza os olhos, eu uso óculos porque acho charmoso, faz parte deste meu jeito, é assim que eu quero ser vista, como você pode ver eu me ligo um pouco em aparências, mas – no fundo, no fundo – meu olhar interior é bem generoso – não sei, soa meio presunçoso isso, mas alguém me disse e eu achei bonito – repeti – desculpe – perdi o foco de novo, viu? – muitos olhos, é fácil perder o foco – óculos multifocais, eu uso eles pra ler, pra ler este seu sorriso e esta pequena lágrima escondida no canto do seu olho, pronta pra pular e me afogar – eu não vou me afogar – não vou te afagar nem te bater. Pode ir chorar escondido dos meus olhos – eu sei que deixo as pessoas constrangidas como se todos os olhos estivessem olhando – haja talento pra tantas câmeras – haja ângulos bons pra mostrar – mas eu juro, sou boa fotógrafa e o resto a gente resolve no photoshop.

EFEITO ESTROBOSCÓPICO


Pisca – pisca – pisca – pisca – pisca – pisca – pisca.
O que é um frame pra quem está piscando?

SESSÃO PIPOCA

Virei estátua de sal
no cinema 360 graus.
Não pude ir adiante
sem olhar pra trás.

SPIDER FITNESS









A aranha no centro do toca-discos
E um som do Djavan rodando sem parar


terça-feira, 16 de setembro de 2008

De como sou aderente.


São seis pernas pra dar firmeza. São seis pés plantados no chão. Nas paredes. No teto. Pra que eu possa ir às alturas. Segura.

Eu adiro aos esportes radicais.

Eu adiro ao Bungee Jump. E eu gosto de ficar de ponta cabeça. Afinal eu tenho minha teia... Afinal estou amarrada pelas pernas por uma corda que agüentaria toneladas. Muitas vezes o meu peso. Então eu pulo de Bungee Jump. Contando que tenha um colchão inflado lá embaixo. Aí eu me jogo. Se jogar é bom. Quando você tem uma teia de segurança e seis patas com intensa aderência.

E eu sou aderente ao rapel. Porque eu gosto de atividades verticais. E eu tenho minha teia. Estou amarrada pelo quadril por uma corda que agüentaria toneladas. Muitas vezes o meu peso. Aí eu faço rapel. Desço rapidão lá de cima. Quase que caindo. Porque eu gosto de alturas. É gostoso cair. Quando você tem uma teia de segurança e seis patas com intensa aderência.


terça-feira, 9 de setembro de 2008

O VELUDO DA FALA

A – E se o Djavan morresse?
C – Seria lembrado.
B – Não sei. Memória é uma coisa falha.
A – Por quê?
B – Cada pensamento é uma queda de braço.
...
C – Uma queda de braço?
B – Uma queda de braço com um antigo pensamento. Pra ver quem permanece.
...
A – E a aranha?
B – A aranha o quê?
A – E se a aranha morresse?
...
B – Nada.
A – Nada?
B – Nada, nada, nada.
C – Nada, de vazio?
B – Nada, de nada. A aranha morre, e pronto.
...
A – E a pedra?
C – É, e se a pedra morresse?
B – A pedra não nasce nem morre.


“Diz que pedra não fala.
Que dirá se falasse.”
Djavan

domingo, 7 de setembro de 2008

- Eu sempre quis alguém pra me carregar.
- Toma isso. Coloca na tomada. E quando acender a luz verde você tira da tomada. E pronto. Carregada.
- Mas e a frase?
- Que frase?
- Enfim sós. Eu queria que alguém me carregasse e me dissesse: "Enfim sós".
- Você está carregada, não está?
- Sim, estou.
- Então agora eu tenho que ir embora.
- Mas e a frase?
- Tira do plural.
- E se existisse uma santa moderna?
- Uma santa moderna?
- Sim. Seria mais fácil de atingir a população.
- Sim. Ela seria pop.
- Por quê pop?
- Porque ela teria um monte de fios e cada fio teria uma entrada pra plugar em alguém. Entende? Conexão.
- É isso. Uma santa moderna que oferece conexão através dos fios. E pronto. Tá todo mundo abençoado.
- Só isso? Que rápido! Que prático!
- Mundo moderno, benzinho.

SPIDERMAN! SPIDERMAN!

O que a aranha vê de olho fechado?
As pálpebras.
Mas aranha tem pálpebra?
E o peixe - que não tem pálpebra - pára de olhar em algum momento?

****

A aranha pesca.
Mas não pesca peixe.
Por que?
Porque o peixe tá de olhos abertos.

****

Se a teia é o anzol o que é a isca?
Se a teia é a isca o que é o anzol?
Já imaginou? A aranha com roupinha puída e chapéu de pescador?

****

1- Ok. Já sabemos que a aranha vê uma porção de coisas.
2- Mas o que será que a aranha escuta?
1- Será que ela gosta dos Beatles?
2- Deve gostar. Todo mundo gosta dos Beatles.
1- Ainda mais porque besouros são deliciosamente crocantes.
2- Aranha come besouro?
1- Dependendo do tamanho...
2- Da aranha ou do besouro?
1- Depende...

****

A- Aranha fica doente?
B- Não. Aranha morre e pronto.
A- Será que a aranha pensa esteticamente na teia como eu penso?
B- Vai saber...

A- Aranha tem alma? Vai pros Céus? Acredita em Deus, Jesus, Maria e todos os santos?
B- Não. Aranha morre e pronto.

****

Se a aranha quisesse andar de patins iria pagar tão mais caro por isso...

(cantando)
SPIDERMAN! SPIDERMAN!

A
aranha deve preferir heróis da Marvel.

Eu vou comprar uma camiseta do Homem-Aranha pra usar durante temporada.

E se a aranha cantasse?

"SPIDERMAN! SPIDERMAN!"

A- Será que a aranha gosta de desenho japonês?
B- Não. Só dos heróis da Marvel.
A- Veneno de aranha é ácido, básico ou neutro?
B- A aranha tem o mesmo problema da barata de ficar de barriga pra cima e não conseguir mais voltar?

****


Eu sempre imaginei que a Dona Aranha da música acabasse no inferno...
Mas aranha tem alma?
Não. Aranha morre e pronto.

****

Cansei de existir. Acho que todo mundo deveria brigar por uma existência mais doce.

Cansei de enrolar fios e contar máquinas. Cansei de pensar naquilo que se conecta.

A aranha em rede.
A aranha na rede.
A aranha de férias.
A aranha numa existência mais doce.
A aranha pescando com um pirulito na boca e a alma em paz.
A aranha se chama Owen.

PÁRA DE PROJETAR O SEU IDEAL NA ARANHA.

VOCÊS ESTAVAM PENSANDO EM EQUILÍBRIO?

eu ando como a aranha eu sou a aranha andando pelas paredes me assusta eu começo sem as mãos ela parte pra outra aranha brinca como na minha sombra engulo o fluxo refluxo

o fio que não se conecta ao fio que se conecta à rede.

****

Se a direção do movimento é sempre em relação ao tronco, qual é a direção do meu movimento quando o meu tronco fica se movendo? Pra onde apontam meus pés? Frente? Direita? Frente? Esquerda?

Aquilo que se balança eu balanço e parece olhar pra mim.

Brincando com equilíbrio. O mosquito está preso à teia.

O cowboy solitário com sua corda. O fio. Que prende. Que laça. Laça o outro objeto. Laça o outro-objeto. Que se conecta. Entra em rede. WEB. Teia. Eu sou a teia.

Toda ação provoca uma reação igual e contrária.

Eu meço a rede. Teoria do esforço repetitivo. Cabo de guerra.

O que eu laço quando eu laço o outro que me laça enquanto eu laço o espaço?

****

Muitos fios tendem a produzir uma teia maior. Mas essa teia (emaranhado de fios) se faz e desfaz. Expande e retrai. É uma teia de fios em rede. Alguns conectados. Outros não. Acesso discado. Via cabo. ADSL. Essa rede é esticada. A coroa de Cristo. Como espinhos. Os fios se modelam em qualquer coisa. Viram rede. Cenário. Figurino. Ligação entre os atuantes. Cabo de guerra. Fio de guerra. Fio de paz. Descanse em paz. Faz e desfaz.

Qualquer desenho se torna possível.
Porque talvez só nós enxerguemos teia.
Talvez no emaranhado de idéias (fios) só nós sejamos capazes de enxergar.

Como tonar o que nos é sensível visível?
Como se dialoga de igual pra igual com o outro? Sem hierarquias.
Como eu torno possível a beleza em um emaranhado de fios (idéias)?

O que se desfaz é aquilo que já foi feito. O que está aqui agora? O feito ou o desfeito? Mas com que efeito?

A Teoria Funcionalista só se preocupa com o efeito da mensagem.
Mas o meio não é a mensagem?
Então a mensagem é o teatro em si.

A mensagem é cada fio da teia. Feita ou desfeita. Desta feita será assim:

Eu direi coisas e você ouvirá. Depois eu ficarei quieta e você dirá coisas. Nós nos entenderemos e cada mensagem será bem sucedida. O teatro será bem sucedido. Nada ficará malacabado. As palavras começam a faltar. Precisamos nos comunicar por pensamento. Me ouça. Me ouça sem que eu diga coisa alguma.

Não cabe como rima de um poema

Coça, coça, coça porque não consigo parar de coçar? Perai um espiro ... Não ainda não é o momento. Você vai ter que esperar... Ninguém na linha tu tu tu

- Não, isso quer dizer que caiu.

- Mas me equilibrei o máximo que pude.

- Pois é, não foi o suficiente.

- Suficiente realmente não foi. Mas pelo menos eu gostei.

- Que bom. Eu não

- É uma pena

- É. E você não vale a pena

- Pena que faz cosquinha no nariz?

- Acho que chegou o momento.

- Não pularei mas de precipícios.

- Dizem que são ócios do oficio.

- Mas se eu pular de precipícios não terei ossos pra contar historia.



Eu só queria fazer uma cena bonita. Equilibrando-me em tamancas de gelo. Mas não sou muito equilibrada.

- Então é desequilibrada?

- Não

Advérbio interrogativo

Por que eu não tenho a elegância de uma aranha?

Por que eu não tenho pernas altas?

Por que eu não sou clássica? (tipo bailarina)

Por que me sinto pequena e estranha?

Por que não piso em linhas?

Na verdade não saio delas.

Acho que sou uma presa .

FÁCIL.

Vou andado calmamente para o meu fim.

Ele está próximo.

- Sim, no máximo uns 70 anos de vida.

- E depois nada?

- Nada, nada , nada.

- Nada de vazio?

- Não entendi. Tem virgula?

- Não sei nunca fui boa em português.

Eu realmente tinha idéias brilhantes mas o português sempre me atrapalhava. O seu Manuel.

Por que a teia?

Não sei é só um fio que se liga a outro , em outro , em outro.

Por que há sempre uma musica?

Por que não sou delicada? ( em todos os sentidos)

Por que me sinto suja?

- Não sei, pode ter sido algo que você fez.

- É eu passei a mão muitas vezes no chão.

E lá é pra botar o pé.

Na hora do intervalo

Tenho e ser sincera nada me passa pela cabeça . Será que todos os meus pensamentos em pequenos instantes foram sugados pelo mundo ? Instantes – Estantes.

De livro. Aquelas das bibliotecas com todo conhecimento do mundo.

- O mundo todo cabe ali?

- Cabe sim. Ele cabe até em uma foto daquelas medias.

- Hum .... Tipo aqueles livros “Tudo sobre Einstein em 90 minutos”.

- É mas isso não acontece naquela propaganda que um cara levou não sei quanto tempo pra cozinhar tal prato.

- Não. Mas nem tudo bate.

- Carros eu sei que batem. Meu namorado quase morreu esmagado por um caminhão. Ta eu sei que em tudo isso há um pouco de exagero.

Cazuza – o tempo não para- por isso vou escrevendo.

- Você lembra daquela propagada que falava sobre isso ? Eu gostava.

Mas nada disso ta fazendo sentido.

Quando v c ri muito fica assim meio boba.

Agora só o que me vem na cabeça uma enorme boca sorrindo. Com dentes branquinhos . Como num comercial de margarina.

E como todo filme feliz minha historia acaba aqui.

FIM.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

"Eu sou uma pedra", ela disse com os olhos. Os meus olhos que ela havia perdido. Eu também não reclamei por ela tê-los encontrado, todos eles inteiros. E agora usá-los como cartaz. Cartaz que diz, que insiste, que grita: "eu sou uma pedra". Ela parecia mesmo uma pedra. Durante todo aquele tempo. Todo aquele tempo impossível de se medir. Poderia ter sido apenas uma tarde chuvosa ou todo o verão. Eu permaneci escalando a vidraça que continuou me encarando.

Tirei fotos pra manter na memória. Memória é uma coisa falha. Cada novo pensamento é uma queda de braço. Uma queda de braço com um antigo pensamento. Para ver quem permanece.

As luzes piscam e a música continua.

Cada novo pensamento expulsa um antigo. Ou não consegue se fixar. A teia fica em cima. Pra cima. O teto é o chão. Cada hora um novo pensamento me acomete. Sem espaço na memória RAM.

Alô! O celular tocou e o pensamento último escapou. Não conseguiu nem jogar uma queda de braço. Não pôde brigar por espaço. Espaço na minha cabeça que dói.

As bases foram alteradas. Eu só queria pisar o teto. Encarar o chão. E desconsiderar as paredes todas. Como se o teto se sustentasse sozinho. E. E eu pudesse ser chão.